terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Num dia


Num dia
Ó pescador das ondas turbulentas
Ó peixe de prateada cor
Ó barco de quilha gasta
Vocês que nem uma palavra trocam
Vocês que tantos mitos criam
Ó mar tantos tu matas, tantos tu alimentas
Ó homem das rugas salgadas
Ó animal de escama escorregadia
Ó corta vagas
Vocês nem uma palavra dizem
E às vezes desaparecem sem rasto
Ó tu que ceifas vidas
Ó tu que morres para servir de alimento
Ó tu que és cúmplice
Vocês continuam sem uma palavra dizer
E continuam a desaparecer
Sem sequer saber
Os nomes de quem fazem felizes
Vocês que continuam a ser do mar
Vergando-se às ondas
Bebendo as suas águas de morte e vida
Pedindo apenas para chegar vivo ao fim do dia
Sabendo que a linha que vos separa é fina demais
Um dia ganha-se no outro perde-se
E nas águas do Oceano perder é morrer
O peixe que vive para procriar e morrer
O pescador que vive para matar o peixe e morrer
O barco que sangra as ondas, sente o sangue do peixe
E no fundo do mar, serve de campa ao pescador.

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